quinta-feira, 18 de novembro de 2010

A Intolerância à Lactose

A Intolerância à lactose é o termo utilizado para pessoas que não conseguem digerir produtos lácteos (leite e seus derivados). Esta impossibilidade de digestão geralmente ocorre em pessoas que não produzem a enzima lactase ou produzem-na em quantidade insuficiente para realizar a digestão da lactose.
A intolerância à lactose é um problema comum. Na Europa e nos Estados Unidos a prevalência é de 7-20 % em adultos brancos.
Os sintomas clínicos de intolerância à lactose incluem diarréia, dor abdominal e flatulência após a ingestão de leite e seus derivados.

A Lactose

A lactose é o açúcar do leite. Ela é digerida pela enzima lactase (que se encontra no intestino) se transformando em glucose e galactose. Estas então são absorvidas pelo corpo. Pacientes com deficiência da enzima lactase acabam não digerindo a lactose, que não consegue ser absorvida pelo intestino delgado, passando diretamente para o intestino grosso, causando diarréia e flatulência.
A ingestão de lactose varia com a idade. Entre as crianças, os carboidratos (principalmente a lactose) contribuem com 35-55 % das calorias diárias ingeridas. A ingestão de lactose diminui durante o desmame, quando outros alimentos são introduzidos. Em uma típica dieta ocidental, o adulto ingere cerca de 300 g de carboidratos por dia. Destes, 52% são de amido (principalmente cereais e batata), 37% de sacarose, 5% de lactose (principalmente o leite) e 3% de frutose (frutas e mel). Glicogênio, glicose, maltose e celulose são constituintes minoritários da dieta.

Causas

As causas de má absorção de lactose podem ser divididas em primárias (deficiência genética de lactase) e secundárias (doença subjacente intestinal).
Dentre as causas secundárias podemos incluir: síndromes de supercrescimento bacteriano, gastroenterites virais e bacterianas, doença inflamatória intestinal ou quaisquer outras doenças que causem danos ao epitélio intestinal.

Sintomas

O termo intolerância à lactose é aplicado para o desenvolvimento de sintomas característicos após a ingestão de lactose. Estes sintomas incluem dor e distensão abdominal, flatulência, diarréia e, normalmente nos adolescentes, vômitos. Geralmente a dor é em cólica e localizada na zona periumbilical ou no quadrante inferior. Borborismos (barulhos causados por gases) podem ser audíveis no exame físico. As fezes são volumosas e espumantes.
Os sintomas, porém, são variáveis entre os indivíduos, devendo sempre o médico ser consultado nestes casos.
Diagnóstico

O diagnóstico de intolerância a lactose é fechado quando o paciente possui sintomas típicos e exames laboratoriais alterados. Geralmente se utilizam testes de absorção (teste de tolerância a lactose) ou má absorção (teste do hidrogênio).
Teste de tolerância a lactose - Após a administração oral de uma dose teste de 50 g de lactose, os níveis de glicose no sangue são monitorados em 0, 60 e 120 minutos. O diagnóstico se faz se houver um aumento da glicose no sangue inferior a 20 mg / dL (1,1 mmol / L) e desenvolvimento dos sintomas. Este teste tem sido abandonado por provocar sintomas desagradáveis.
Teste expiratório do hidrogênio – Este teste é simples de executar, não invasivo e os resultados são superiores ao teste de absorção.

É medida a quantidade de hidrogênio expirado. Em indivíduos normais esse valor é baixo. Já nos pacientes com intolerância é alto, pois as bactérias do intestino grosso fermentam a lactose (que não foi digerida) produzindo vários gases, incluindo o hidrogênio, que por sua vez é absorvido e chega aos pulmões sendo então exalado. O teste é iniciado ingerindo-se lactose por via oral em jejum, na dose habitual de 2 g / kg (dose máxima de 25 g). O hidrogênio expirado é medido no início e em intervalos de 30 minutos, durante três horas. Quanto maior a fração de hidrogênio expirado, maior a chance de intolerância a lactose. Em geral, considera-se um valor hidrogênio no ar expirado de 10 ppm (partes por milhão) como normal. Valores entre 10 e 20 ppm pode ser indeterminado, salvo acompanhado de sintomas, enquanto que valores acima de 20 ppm são considerados diagnósticos de má absorção de lactose.
Exame Genético – Realizado através de testes moleculares. A amostra de sangue é colhida e se faz a pesquisa de mutações de genes no DNA que produzem a lactase.

Tratamento

Os casos de intolerância a lactose secundárias a doenças intestinais subjacentes devem receber tratamento para a doença de base.
O tratamento da má absorção de lactose primária, na ausência de uma doença subjacente corrigível, inclui quatro princípios gerais:

• Redução da ingestão de lactose na dieta.
• A substituição de fontes alternativas de nutrientes para manter o consumo de energia e proteína.
• A administração de suplemento de enzima disponível comercialmente.
• Manutenção da ingesta de cálcio e vitamina D.

Alimentos que contém Lactose: A maior concentração de lactose está presente no leite e sorvete. Queijos contêm quantidades inferiores.

Dieta: A restrição total de alimentos contendo lactose é necessária por um período limitado, para determinar o diagnóstico. Após essa fase deve-se introduzir pequenas quantidades de lactose. A maior parte das pessoas que sofrem desse mal toleram certa quantidade de lactose, devendo esta dose ser ajustada individualmente, através do desenvolvimento dos sintomas. A dieta deve ser orientada pelo nutricionista, para se ter certeza de que gordura, proteína e outros nutrientes são fornecidos em níveis adequados.

Cápsulas de Lactase – Existem suplementos comercialmente disponíveis contendo a "lactase". Estes são constituídos de bactérias ou leveduras beta-galactosidases. Tais preparados podem ser utilizados durante as refeições ou adicionados a alimentos que contenham lactose, reduzindo os sintomas. No entanto, estes produtos não são capazes de digerir completamente toda a lactose na dieta e os resultados obtidos em pacientes individuais são variáveis.
Ainda não existe cura para intolerância a lactose, porém seus sintomas podem ser atenuados com as medidas descritas acima. Durante a adaptação aos hábitos alimentares, cada indivíduo aprenderá sobre quais alimentos lácteos poderá ingerir sem sentir sintomas.

* Dra. Fernanda Marques é Gastroenterologista

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