Pois bem: por mais que “sinceridade” seja uma qualidade desejável nos seres humanos, sabemos que, em alguns momentos, precisamos controlar e/ou disfarçar nossa real opinião sobre o mundo à nossa volta para conseguirmos viver bem em sociedade.
Contudo, observa-se nas crianças momentos nos quais a mentira toma proporções que chega a preocupar os pais. Por isso, torna-se importante fazer uma reflexão sobre as mentiras nas diversas fases do desenvolvimento.
A criança de aproximadamente 3 a 7 anos de idade, manifesta uma confusão entre fantasia e realidade que é considerada normal, como parte de seu desenvolvimento saudável – ela, aos poucos, vai descobrindo a independência de seus pensamentos. Fantasiar é importante no estímulo à criatividade. Assim, é comum percebermos o exagero de informações “mirabolantes” quando a criança em idade pré-escolar nos conta algo que viu ou ouviu, anexando à realidade vários aspectos de seu universo simbólico.
Entretanto, quando essa mentira surge para encobrir um erro, cabe aos pais demonstrarem sua desaprovação, sempre possibilitando ao filho um espaço para se arrepender. Nos casos em que há uma história fantasiosa de perigo ou perseguição, que se repita com muita frequência, é importante ficar atento, pois pode indicar algo que realmente esteja preocupando ou ameaçando a criança – como quando ela relata de maneira muito angustiada fatos ocorridos na escola, por exemplo.
Na idade escolar, a partir de 6/7 anos, a criança já se utiliza de uma linguagem mais elaborada, menos simbólica, e as noções de certo e errado tornam-se mais nítidas. Neste caso, a presença da mentira já envolve alguma premeditação, e por meio dela, a criança alcança certa compensação que, por sua vez, pode servir de estímulo para uma próxima mentira – processo que vai retroalimentando-se.
Desta forma, deve-se explicar ao filho os prejuízos que a mentira pode acarretar, fazendo-o refletir sobre ela por meio de um diálogo claro e compreensível. Convém, também, fazê-lo reparar seu erro. Broncas e castigos excessivos não resolvem, pois isso pode incentivar a criança a mentir em uma situação semelhante para evitar a punição.
Vale ressaltar que os adultos, especialmente os pais, são espelhos de conduta para as crianças, e que muitas coisas elas aprendem por observação e imitação: inclusive a mentir. Quem nunca viu um adulto pedir ao filho para atender o telefone e dizer que ele não está em casa?
• Ressaltemos alguns pontos
Quando uma criança lhe colocar em situação constrangedora, por exemplo quando perguntar algo difícil de se responder, não invente histórias. Procure explicar de maneira correta e direta, fazendo uso de uma linguagem acessível àquela idade.
Os interrogatórios que obrigam a criança a dizer a verdade deixam-na ansiosa, o que pode fazer com que ela se confunda ainda mais. Espere um pouco, e peça para que conte novamente a história algum tempo depois. Assim, você poderá avaliar melhor a veracidade das informações.
E nunca torne uma criança cúmplice de sua mentira. O exemplo é a maior escola, tanto de boas ações quanto de atitudes indesejadas.
* Gláucia da Silva Veigas de Macedo é Psicóloga
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