Na ativa, a mãe vai dar significado, tomando como uma atividade do seu bebê, na tentativa de se expressar. A partir daí poderá iniciar uma comunicação entre mãe e filho e, por que não, uma comunicação a três - mãe, pai e filho.
Há algum tempo atrás, dizia-se que o desenvolvimento emocional do ser humano iniciava-se no momento de seu nascimento. Com o passar do tempo, e depois de muitas pesquisas tanto na área tecnológica como psicanalítica, foi concluído que o desenvolvimento do psiquismo humano tem início ainda no ambiente intra-uterino.
Esse fato pode ser claramente comprovado observando-se a alternância de intensidade nos movimentos fetais, e nos batimentos cardíacos do bebê através da ultra-sonografia e da ecografia, de acordo com as alterações emocionais da própria mãe. Sendo assim, é de extrema importância para o seu desenvolvimento emocional, que o bebê se sinta querido, amado, desejado e participante da nova família.
No ventre materno, o bebê tem acesso a determinados sons, que com o passar da gestação, tornam-se familiares a ele, tais como: os batimentos cardíacos da mãe, os sons da digestão, gases, a voz da mãe, pai e pessoas do convívio familiar, e alguns outros sons externos que mesmo um pouco abafados, continuam audíveis pelo feto. No caso de alguma alteração no estado emocional da mãe, esses sons se modificam, e há a produção alterada de hormônios e substâncias químicas, que ao penetrar na corrente sanguínea, ultrapassam a barreira placentária chegando ao feto fazendo com que o ambiente até então tranqüilo e confortável torne-se sombrio e ameaçador.
Nesse momento, a mãe pode perceber claramente a mudança no comportamento do feto. Muitas vezes torna-se agitado demais como se estivesse tentando se defender, ou pára bruscamente os seus movimentos caindo em sono profundo como num mecanismo de fuga. Até o final do primeiro trimestre de gestação, o feto não sabe identificar ao certo alguns estados emocionais da mãe por imaturidade neurológica, porém os reconhece como sensações agradáveis ou não. Com o passar do tempo, e o amadurecimento do sistema nervoso, passa a identificar melhor essas emoções e reações provenientes do “matroambiente”.
Fluxos de Afetos da Vida Uterina
Segundo David Boadella, criador da Biossíntese, existem três fluxos de afetos na vida uterina, associados às três camadas germinativas do embrião: ectoderma (camada exterior), mesoderma (folheto médio do embrião, entre o ectoderma e o endoderma) e o endoderma (camada interior).
1. Afeto pele-fetal
Francis Mott, teórico que se dedicou ao estudo da transição da vida uterina para o mundo exterior, sugere que alguns sentimentos libidinais são gerados em toda a superfície do feto pelo movimento da lanugem em contato com o líquido amniótico. Esses pêlos macios aparecem no quarto mês da vida do feto e, de maneira geral, desaparecem antes do nascimento. Os movimentos fetais começam quase sempre no quinto mês. O corpo fetal passa, portanto, três ou quatro meses movendo-se nas águas do líquido amniótico, com sua lanugem ondulando-se minuto a minuto para frente e para trás.
Este afeto é a base da sensibilidade do adulto a qualquer impacto proveniente do mundo exterior, não só na superfície da pele, mas também nos órgãos dos sentidos derivados do ectoderma, particularmente olhos e ouvidos. A hiper-sensibilidade de certas pessoas à luz ou ao som poderia ter a sua origem nas dificuldades com afeto pele-fetal.
2. Afeto cinestésico
Por volta da metade da gestação, a mãe nota os movimentos mais vigorosos dentro do seu útero - os tais chamados "chutes do bebê". Os movimentos primitivos de natação do feto são protótipos dos movimentos que ele irá fazer na vida pós-natal, quando aprender a fazer resistência à gravidade. Eles são a base biológica da agressividade (do latim aggredi, aggressius - movimento para frente) que está fundamentada na mobilização dos músculos da espinha. Se os movimentos são graciosos e soltos, estão carregados de afeto cinestésico positivo e prazeroso; movimentos tensos e contraídos estão carregados de afeto cinestésico negativo e doloroso. Movimentos espontâneos possuem uma coordenação que flui naturalmente.
Os movimentos de natação do feto, os chutes do bebê, o prazer de correr e pular da criança, os movimentos coordenados do atleta adulto apresentam um grau elevado de afeto cinestésico. As dificuldades em dançar, jogar futebol e mover a pélvis poderiam ter suas origens no campo do afeto cinestésico.
3. Afeto umbilical
A terceira corrente de afetos intra-uterinos é o fluxo do afeto umbilical da placenta através do cordão umbilical para o centro do corpo do feto. Se a mãe está usufruindo de sua gravidez e está emocionalmente feliz, sua sensação de bem-estar é comunicada à criança.
O afeto umbilical positivo manifesta-se como uma sensação de bem-estar e vitalidade, um calor agradável no centro do corpo. O afeto umbilical negativo manifesta-se como uma sensação de indisposição, ansiedade, desespero e mal-estar; é uma sensação de envenenamento da fonte da vida.
No nascimento, quando o cordão umbilical é cortado, o afeto umbilical permanece como uma memória somática que pode afetar a qualidade do sentimento e a distribuição da energia do abdômen. O modo pelo qual a criança digere os alimentos está relacionado com a maneira como ela digere os sentimentos.
Desta forma, as emoções sentidas pela mãe são integralmente sentidas pelo bebê, causando muitas vezes prazer e conforto ou um grande sofrimento e desconforto por parte do feto. Nesse momento é importantíssima a qualidade do vínculo afetivo firmado entre mãe e bebê, pois no caso de haver qualquer alteração emocional o bebê enviará uma resposta de desconforto, que prontamente será percebida pela mãe, e esta, tentará aliviar essa tensão no bebê, conversando com ele, fazendo um carinho no ventre, de modo que o ambiente intra-uterino volte a apresentar o conforto necessário para que o bebê se sinta amparado e protegido.
A participação do pai e irmãos nessa busca pela tranqüilidade intra-uterina também é importante, pois além de o bebê se sentir desejado, amado e membro da família, facilitam o reconhecimento paterno precoce e, conseqüentemente, a formação do vínculo familiar no bebê logo após o nascimento. Portanto, o pai e irmãos devem acariciar o ventre da mãe e conversar com o bebê o máximo que puderem. Um bebê gerado em ambiente tranqüilo, cercado de carinho e amor, no futuro se transforma em um ser humano mais seguro e confiante em si mesmo.
* Dra. Adriana Braga da Graça é Pediatra Neonatologista
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