O alcoolismo é caracterizado pela dependência do etanol. Do ponto de vista médico, o alcoolismo refere-se a uma doença crônica na qual o alcoolista deseja e consome etanol sem saciedade, torna-se cada vez mais tolerante aos seus efeitos (embriaguez) e, quando a ingestão é interrompida, exibe sinais e sintomas de abstinência como evidência da dependência física do etanol.
O uso de bebidas alcoólicas no Brasil é realidade bastante difundida e fonte de preocupação entre as autoridades. Estima-se que o número de brasileiros, com idades entre 12 e 65 anos, dependentes de bebidas alcoólicas corresponda à população de mais de 5milhões de pessoas. O grupo etário que mais consome álcool situa-se na faixa entre 20 e 35 anos. Mulheres iniciam o uso mais tarde, e o uso é em maior quantidade entre os homens. A mulher, por sua vez, é mais suceptivel aos efeitos danosos do álcool.
Os diagnósticos psiquiátricos adicionais mais encontrados nestes indivíduos são abuso ou dependência de outras drogas, alterações de personalidade, transtornos de humor e transtornos de ansiedade. Neste caso, por ser eficaz no alívio da ansiedade, faz com que muitas pessoas usem-no por esta razão. Pessoas com problemas relacionados ao álcool têm uma taxa de suicídio acentuadamente superior a da população em geral.
O alcoolismo, como qualquer condição psiquiátrica, representa um grupo heterogêneo de processos patológicos, estando evolvidos fatores genéticos, psicossociais e comportamentais. Muitos estudos têm mostrado que as pessoas com parentes em primeiro grau com problemas com o álcool estão de 3 a 4 vezes mais propensas a terem transtornos com álcool do que as que não têm parentes de primeiro grau afetados.
O álcool etílico, também chamado de etanol, é a forma comum do álcool, a que se pode beber. Cerca de 10% do álcool ingerido é absorvido no estômago, sendo o restante no intestino delgado. Alimentos retardam sua absorção. Nosso organismo possui dispositivos contra a inundação pelo álcool. Se a concentração torna-se muito alta no estomago, ocorre secreção de muco e fechamento da válvula pilórica, que conecta o estômago ao duodeno, primeira porção do intestino. Estas ações lentificam a absorção e evitam que o álcool passe para o intestino delgado. Desta forma, frequentemente resultam em náusea e vômitos. O álcool absorvido dissolve-se rapidamente pelos tecidos do corpo, sendo 90% metabolizado pelo fígado e os restantes 10% eliminados de forma inalterada pelos rins e pulmões (daí o termo “bafo de cachaça”).
O álcool exerce uma serie de efeitos no organismo. Inicialmente, em baixas concentrações no sangue, exerce efeito tranqüilizante e relaxante. Com o aumento da dose, tem efeito desinibitório, com loquacidade, sensação de bem-estar e euforia. Porém, como o álcool é um depressor do sistema nervoso central, num nível mais aumentado no sangue, o julgamento, pensamento, auto-concentração ficam perturbados e a parte do cérebro que controla o comportamento emocional também é afetada. Em níveis ainda superiores, causa confusão mental, estupor, coma e morte, por depressão respiratória ou aspiração de vômito. Pessoas dependentes e com abuso de álcool de longa data são capazes de tolerar concentrações muito mais altas de álcool do que as pessoas que não costumam beber, podendo falsamente parecer menos intoxicadas o que realmente estão, em virtude de sua tolerância.
Embora o consumo de álcool à noite, em geral, facilite a conciliação do sono, ele está associado à diminuição do sono profundo e maior fragmentação do sono.
Os principais efeitos adversos relacionam-se ao fígado. O uso de álcool mesmo em episodio curtos (de uma semana) pode acarretar em um fígado gorduroso. O uso em longo prazo, em doses elevadas, está associado ao desenvolvimento de hepatite alcoólica e cirrose hepática. No sistema grastintestinal, associa-se a esofagite, gastrite e úlceras gástricas, interferência na digestão e absorção de alimentos, que juntamente com os hábitos alimentares habitualmente ruins destes indivíduos, podem acarretar sérias deficiências vitamínicas, particularmente as vitaminas do complexo B, co-fatores de diversas reações químicas cerebrais, acarretando em quadros psicóticos e demenciais graves. A síndrome de abstinência, causada pela interrupção abrupta no consumo após longo prazo de uso pesado de álcool, necessita de hospitalização imediata e pode ser fatal.Outros problemas relacionados ao consumo significativos de álcool são impotência, hipertensão arterial sistêmica, doenças cerebrovasculares, doenças cardíacas, desregulagem de lipoproteínas e triglicerídeos e aumento da incidência de câncer, principalmente esôfago, fígado, cólon e pulmão.
Além dos problemas relacionados à saúde, o alcoolismo gera sérios problemas de ordem social e familiar ao indivíduo, como deterioração no relacionamento familiar, conflitos conjugais, isolamento social, brigas e agressões, problemas com a lei, faltas ou atrasos no emprego, desemprego prolongado ou demissões repetidas e acidentes de trabalho.
Não existe um modo único ou infalível de reabilitar o alcoólatra, e as abordagens terapêuticas concentram-se sobre as medidas de suporte geral, que seguem, na verdade, as diretrizes de bom senso. Após vários dias de desintoxicação, sob supervisão médica, o paciente deve ser encaminhado a um programa de reabilitação multiprofissional, pois raramente o alcoolismo e o abuso de álcool conseguem ser tratados apenas pelo médico.
O paciente necessita de estímulos visando desenvolver um alto nível de motivação para deixar de beber e ajustar-se à sua vida sem álcool. A seguir, devem se desenvolver manobras que ajudem o paciente a reajustar-se à vida sem álcool e a restabelecer um estilo de vida funcional, mediante aconselhamento, orientação vocacional e suporte familiar. O tratamento mais bem sucedido geralmente exige a participação ativa de membros da família, amigos e colegas, e o prognóstico é melhor para aqueles alcoólatras que ingressam no programa de tratamento antes do início dos distúrbios. Muitos pacientes e suas famílias acham úteis os grupos de suporte locais, como os Alcoólatras Anônimos e Al-Anon. Cerca de 50 a 70% dos alcoólatras de classe média, socialmente estáveis, conseguem alcançar a abstinência, derrubando a falsa crença de que são pessoas irrecuperáveis.
Dr. Adriano Gannam é Psiquiatra
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