Diferente de outras doenças, na esquizofrenia não basta tomar as medicações e fazer as terapias específicas indicadas. A família é fundamental no tratamento, dando o suporte necessário para se constituir um caminho de superação.
A experiência da esquizofrenia traz muitas incompreensões, tanto para quem vive a doença, como para as pessoas que convivem com ela, principalmente a família, levando todos a se defrontarem com uma situação nova e muito difícil. A atitude mais imediata é reagir ao comportamento diferente da pessoa, sem perceber que se trata de uma doença, o que causa muito estresse e confusão, por não saberem como lidar com a situação. É importante entender que para a pessoa que tem esquizofrenia o que ela está vivendo é real e não é produtivo tentar convencê-la à força de que as coisas são diferentes. Deve-se compreender que ela tende a desenvolver uma maneira de funcionar e reagir diferente daquela que as pessoas esperam.
A crise aguda na esquizofrenia pode ser um fator de desestabilização de toda a família, podendo tornar muitos difíceis os vínculos afetivos e os relacionamentos. Durante uma crise, o paciente por muitas vezes está se sentindo ameaçado e se descontrola com muita facilidade. É importante, neste momento, não se deixar envolver pelo estado da pessoa em crise, tentando manter a calma, não impondo atitudes e comportamentos que a pessoa não tem condições de entender e, menos ainda, atender. Não criticá-la, ameaçá-la ou tentar segurá-la, pois ela pode reagir por estar assustada e amedrontada. Procurar ajuda dos profissionais de saúde, caso seja necessário, inclusive o serviço de ambulância ou corpo de bombeiros. A internação hospitalar é indicada quando há risco para o portador e/ou para outras pessoas.
É muito importante os familiares terem clareza da necessidade do tratamento como condição fundamental para que a pessoa com esquizofrenia melhore. Os familiares através das relações cotidianas podem mostrar esta necessidade para a pessoa, ajudando a resolver o impasse quando o paciente não tem condições de entender sua condição. É muito difícil convencer uma pessoa adulta a fazer algo contra sua vontade. O caminho mais efetivo é o de negociar sempre e procurar uma forma de convencimento, procurando evitar situações de confronto. Quando a pessoa não aceita o tratamento é porque não consegue perceber que ela pode diminuir o sofrimento e tornar a vida melhor. Os profissionais de saúde e a família têm o papel de facilitar esta compreensão.
A prevenção de recaídas da esquizofrenia é fundamental. As recaídas podem trazer perdas de funcionamento da pessoa, tornando suas atividades cotidianas mais comprometidas e dificuldade de relacionamento com a família e entes queridos. Uma causa comum de recaída é a pessoa melhorar com os tratamento e acreditar que está curada, deixando de tomar os medicamentos. Por vezes até a própria família também acredita nisso, acarretando a descontinuação do tratamento. É preciso entender que a esquizofrenia é uma doença que precisa de acompanhamento e cuidados por tempo indeterminado, de forma que qualquer mudança no uso dos medicamentos deve ser orientada pelo psiquiatra. Outra causa de recaída é a pessoa passar por situações de estresse maiores que sua capacidade de lidar. Manter um convívio familiar harmônico deve ser entendido como uma medida preventiva para evitar recaídas. A família pode contribuir muito para prevenir recaídas observando alguns sinais e mudanças no comportamento, como idéias diferentes ou estranhas, insônia, irritabilidade aumentada, perda do interesse por atividades rotineiras. É importante, ao observar sinais como estes, fazer uma avaliação com um psiquiatra. Muitas vezes há a possibilidade de evitar uma recaída com a resolução de uma situação estressante ou reajuste na dosagem da medicação.
A esquizofrenia é uma doença que muda a vida da pessoa e da família. Muitas dificuldades se devem a não aceitação, tanto por parte do paciente, como também por parte da própria família, o que leva a não seguir corretamente os tratamento ou desistir deles. Uma consciência importante permite construir uma vida com qualidade. Promover a autonomia da pessoa, incentivar a realização de tarefas que estão ao seu alcance, reconhecê-la no convívio familiar não apenas pelas suas limitações, mas também pelo incentivo e reconhecimento de suas habilidades e potenciais, bem como a conscientização da doença e o seguimento adequado do tratamento ajudam muito a controlar os sintomas e abrem a possibilidade de redesenhar o caminho da própria vida do paciente com esquizofrenia.
* Dr. Adriano Gannam é Psiquiatra
Nenhum comentário:
Postar um comentário