É preciso entender também que as relações íntima (não só aquelas que envolvam o “ato sexual” propriamente dito) podem exercer um impacto na qualidade de vida com a mesma intensidade de um casal antes da chamada “terceira idade”, necessitando portanto ser sempre abordado e orientado quando necessário.
Sexualidade é um termo que pode ser discutido sob diversos pontos de vista, entre eles culturais, antropológicos, fisiológicos, psicológicos e até patológicos, mas valiosos do que os homens e mulheres experimentam durante o processo de envelhecimento, algumas alterações anatomo-fisiológicas em maior ou menor grau que podem vir a influenciar sua sexualidade. No gênero masculino observamos um maior tempo para atingir uma ereção completa, um retardo na ejaculação, um maior período de latência para nova ereção (intervalo de uma ereção e outra), bem como redução da frequência sexual. Entre as mulheres observa-se uma redução da lubrificação vaginal, atrofia vaginal e uretral (podendo trazer em idades avançadas desconforto às relações e cistites de repetição). Redução da duração do orgasmo e da acidez vaginal. Todas essas alterações como dito anteriormente são fisiológicas e individuais não necessariamente correspondendo a qualquer disfunção sexual. O próprio fato de conhecer essas alterações tem um impacto positivo para uma boa vivência nessa nova fase. Outras limitações relacionadas a sexualidade na população idosa seriam doenças clínicas, autoestima negativa, problemas emocionais, barreiras sociais e/ou religiosas e Institucionalização (viver em asilos ou casas de repouso, etc.).
Diversas situações enfrentadas pelos idosos podem trazer prejuízos na questão sexual como viuvez, luto, separação ou aspectos diretamente ligados e desambientação (morar com os filhos, por exemplo). Outro fator importante a ser considerado é a influência de comorbidades ( outras doença), como artrites, diabetes, doença de Parkinson, incontinência urinária, AVE (“derrames”), bronquite, entre outras; nunca esquecendo das disfunções sexuais como efeito colaterais de medicamentos (principalmente quando se usam várias drogas). É claro que precisamos salientar também que mesmo diante de tantas situações, que podem alterar a sexualidade em indivíduos idosos, uma grande parcela deles apresenta-se satisfeita com suas questões ligadas ao sexo, mantendo relacionamentos proveitosos e emocionalmente valiosos, bem adaptados física e mentalmente aos déficits questões relacionadas ao envelhecimento.
Dados recentes nos alertam para um fato preocupante (e que não pode ser desconsiderado) que é o aumento do índice de DST/AIDS nessa parcela da população, o que remete ao pouco conhecimento e informação destinadas ao uso de preservativo por parte das pessoas idosas; principalmente tratando-se daquelas que não têm parceiro(as) fixos(as). O advento das drogas para tratamento da disfunção erétil (que é a impotência sexual masculina), indiretamente aumentou o número de pessoas sexualmente ativas e também de idosos, até então sem atividade (separados, viúvos, etc..) em busca de novas parceiras, o que requer medidas de aconselhamento e educação (reeducação) de sexualidade apontando para essa nova realidade.
Nos relacionamentos duradouros, geralmente há uma modificação nos padrões do que chamamos “relação de casal”, onde a paixão e o vigor sexual experimentados nos anos iniciais dá lugar a sentimentos como cumplicidade, afeto, intimidade, carinho e aceitação de nós mesmos e dos outros, apesar da passagem dos anos-ou seja, amor e sexo não tem idade!!!
Para este autor, a prática geriátrica, no sentido de escutar (e aprender) a vivência dos meus pacientes com suas histórias simples de relatos e narrativas, mas riquíssimas de sentimentos e possibilidades, tem se tornado experiência muito mais valiosas do que os volumosos livros de Freud ou Lacan, em termos de auto conhecimento.Na verdade o envelhecimento bem adaptado, com relacionamentos bem conduzidos (física e mentalmente) tem muito a nos ensinar sobre tudo o que expressa sexualidade.
* Dr. Renato de Carvalho é Geriatra / Clínico
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