Hoje, a medicina é capaz de detectar precocemente doenças de repercussões gravíssimas que, se tratadas, a tempo, podem evitar ou minimizar sequelas. São testes de fácil execução e que devem ser realizados no período neonatal, universalmente, isto é, em TODOS os recém-nascidos. Conheçam um pouquinho mais sobre estes testes e seus benefícios.
O teste do olhinho (teste do reflexo vermelho) deve ser realizado nas primeiras 48 horas de vida porque as doenças detectadas por este teste podem ameaçar não apenas a visão da criança para sempre, mas a vida. O método é baseado no mesmo fenômeno que se observa quando se fotografa alguma pessoa, e a pupila fica vermelha. Ao invés de se utilizar uma máquina fotográfica, se utiliza outro equipamento chamado oftalmoscópio direto. Este aparelho permite ao médico que realiza o exame observar um reflexo avermelhado na pupila. Quando isto ocorre, significa que o exame está normal. Ou seja, não existe nenhum obstáculo à luz que penetra no olho: os meios estão transparentes. Entretanto, na presença de doenças oculares como catarata, opacidades da córnea, retinoblastoma entre outras, este reflexo estará diminuído ou abolido.
É um teste indolor, o médico examinador observa cada olho, individualmente, com o auxílio do oftalmoscópio, sem qualquer contato com os olhos da criança.
Entre as anormalidades do fundo de olho, a de maior preocupação é o retinoblastoma, que é o tumor maligno mais frequente em criança. É um tumor muito agressivo e que, se não tratado precocemente, pode ser fatal.
A catarata, embora não ameace a vida da criança, compromete seriamente a visão se não tratada precocemente. Sabemos hoje, que o grande desenvolvimento visual ocorre nos quatro primeiros meses de vida, e que se a catarata não for tratada muito precocemente, determina baixa de visão para toda a vida.
Se detectada alguma anormalidade, no prazo de 30 dias o recém-nascido deve ser encaminhado para atendimento em um serviço de oftalmologia para tratamento específico.
O teste da orelhinha (emissão otoacústica) deve ser realizado até os três meses de vida para detecção da perda auditiva a fim de que o atendimento apropriado aconteça antes dos seis meses. A Sociedade Brasileira de Pediatria recomenda a testagem até imediatamente antes da alta hospitalar da maternidade porque a presença de vernix (“cera do parto”) e secreções do parto no canal auditivo podem gerar falsos positivos. Nos casos alterados, deve-se repetir em três meses.
O teste é de fácil aplicação, não há necessidade de colaboração nem sedação da criança, é um teste objetivo e rápido, realizado durante o sono após a mamada. As emissões otoacústicas são registros da energia sonora gerada pelas células da cóclea (uma espécie de decodificador do ouvido), em resposta a sons emitidos no conduto auditivo externo do recém-nascido. A incidência de perda auditiva na população infantil varia de 1 a 6 para cada 1000 nascidos vivos. A perda auditiva tem implicações diretas no desenvolvimento da linguagem, na escolaridade, no relacionamento social e no status emocional. Quanto mais precoce detectada a perda auditiva, melhor é o resultado do tratamento. As crianças atendidas precocemente, têm melhor desenvolvimento do que as que recebem cuidados tardiamente (dois a três anos), em relação à fala, linguagem, ganho escolar, autoestima e adaptação psicossocial. No passado muitos casos de surdez não diagnosticados precocemente eram erroneamente considerados como doenças mentais.
O teste do pezinho deve ser realizado nos primeiros dias após a alta da maternidade, mas pode ser realizado até 30 dias de vida. É o rastreamento neonatal de patologias, em sua maioria, endócrinas e do metabolismo que se detectadas precocemente podem ser tratadas evitando-se as sequelas e melhorando a qualidade de vida do indivíduo. É realizado utilizando-se gotinhas de sangue colhidas em papel filtro especial.
O teste do pezinho disponível no SUS realiza o PKU, o TSH e a cromatografia de aminoácidos.
O PKU faz a pesquisa de fenilcetonúria. É uma doença genética decorrente da deficiência da enzima fenilalanina hidroxilase. Em consequência a fenilalanina acumula-se no sangue do recém-nascido, com efeitos tóxicos ao sistema nervoso central, podendo causar até deficiência mental severa.
A dosagem do TSH Neonatal realiza a pesquisa de hipotireoidismo congênito. É uma doença com frequência muito elevada (cerca de 1:4500 nascimentos), que envolve a deficiência parcial ou total dos hormônios da Tireóide. Com determinação conjunta de T4 e TSH, podem-se detectar todos os tipos de hipotireoidismo congênito. O tratamento precoce desta patologia previne a deficiência mental.
A cromatografia de aminoácidos detecta erros inatos do metabolismo de aminoácidos que ocorre em doenças como a fenilcetonúria e outras aminoacidopatias, tais como: homocistinúria, tirosemia, doença do xarope do bordo, entre outras.
O rastreamento do teste do pezinho realizado por laboratórios da rede privada detecta uma gama de patologias. São os testes ampliado, plus ou master de acordo com o número de patologias pesquisadas. O mais completo deles pesquisa, além das três patologias acima realizadas pelo SUS, a toxoplasmose congênita, deficiência de biotinidase, hiperplasia congênita de supra-renal, hemoglobinopatias, fibrose cística, galactosemia, deficiência da Glicose-6-fosfato dehidrogenase (G6PD), infecção congênita pelo HIV, deficiência da Acil-Coa Desidrogenase de Cadeia Média (MCAD), Sífilis, Doença de Chagas, Citomegalovirose e Rubéola.
Toda criança que recebe alta da maternidade deve, de preferência, já ter realizado o teste do olhinho e o teste da orelhinha e estar com o pedido para realização do teste do pezinho.
Além das triagens neonatais o recém-nascido deve ser vacinado contra hepatite B ao nascimento e, na alta, sua mãe deve ter em mãos o pedido para realização da vacina BCG contra a tuberculose. As demais vacinas do calendário são orientadas durante as consultas de acompanhamento do desenvolvimento.
Então, sigam atentamente as orientações do seu pediatra, realizem as triagens neonatais, pequenas ações previnem grandes transtornos na vida de seus filhos.
* Dra. Adriana Braga é Pediatra
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