A reprodução medicamente assistida, também chamada procriação medicamente assistida é o processo segundo o qual são utilizadas diferentes técnicas médicas para auxiliar à reprodução humana. Estas técnicas são normalmente utilizadas em casais inférteis, ainda que também o sejam em casais em que haja portadores do vírus da imunodeficiência adquirida (HIV), ou do vírus da hepatite B ou C. Outras indicações são casais com elevado risco de transmissão de doença genética como, por exemplo, a polineuropatia amiloidótica familiar ou ainda a Síndrome de Down. Entre as técnicas encontram-se a inseminação artificial, a fertilização in vitro, a microinjeção intracitoplasmática de espermatozóides (ICSI - Intra Citoplasmic Sperm Injection) e a transferência de embriões ou de gâmetas.
A inseminação artificial inclui vários procedimentos envolvendo a introdução do sêmen processado no interior do útero, o que permite a interação espermatozóide-óvulo na ausência de relação sexual. Não possuiu uma alta taxa de sucesso, porém é um processo simples, barato e pode ser realizado no consultório. A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução humana assistida que consiste na colocação, em ambiente laboratorial, (in vitro), de um número significativo de espermatozóides em volta de alguns óvulos, procurando obter embriões de qualidade para posteriormente os transferir para dentro do útero. Para a execução desta técnica exige-se uma prévia estimulação ovariana através de medicamentos adequados e acompanhamento com regularidade pelo médico, de forma a controlar os efeitos dessa estimulação e definir o melhor dia para a colheita dos óvulos. Cerca de 36 horas antes dessa colheita é administrada uma substância denomimada gonadotrofina coriônica que provoca a maturação destes óvulos vindo a permitir a sua recolha por aspiração. Quanto aos espermatozóides estes são obtidos após uma colheita de esperma sendo normalmente sujeitos a algum tratamento prévio. Destes são seleccionados cerca de 50000 com motilidade progressiva rápida para serem colocados junto a cada óvulo. Após cerca de 16-18 horas os óvulos são observados para identificar o estado de fecundação e eventual progressão até embriões de alguns deles. A transferência de embriões para a cavidade uterina é então efetuada através de um cateter, após 2 a 5 dias da colheita dos óvulos. Introduzida em 1992, microinjeção intracitoplasmática de espermatozóides também conhecida por ICSI, é uma técnica de reprodução medicamente assistida que consiste na injecção de um único espermatozóide no interir do óvulo, evitando assim as dificuldades do processo natural em que espermatozóide tem que passar a "barreira" do óvulo para nele penetrar. É uma técnica que se associa à fertilização in vitro (FIV) normalmente quando se detectam factores masculinos que não permitem a fertilização apenas pela junção dos espermatozóides aos óvulos no meio de cultura apropriado. Quando não se obtêm espermatozóides de qualidade através do sêmen ejaculado, procede-se a métodos alternativos de recolha dos mesmos por diferentes processos: Diretamente do epidídimo por um processo chamado percutaneous epididymal sperm aspiration (PESA), aspiração percutânea de espermatozóides do epidídimo, dos testículos pelo método TESA, acrónimo de testicular sperm extraction, aspiração percutânea de espematozóides do testículo, ou, em casos mais severos por extração de amostras do testículo através da TESE (extração de tecido testicular por biópsia). Após a recolha do espermatozóide selecionado, a injecção é efetuada por micromanipuladores acoplados ao microscópio e por microagulhas em que uma delas vai segurar o óvulo e outra vai imobilizar e injetar o espermatozóide. É uma técnica utilizada para ultrapassar vários problemas de infertilidade masculina, entre os quais diminuição da quantidade de espermatozóides, problemas no formato ou na forma de mobilidade destes espermatozóides, vasectomia não reversível, presença de anticorpos antiespermatozóides, dificuldades masculinas na ereção ou ejaculação (por problemas da medula espinhal, por exemplo). Pode ser também indicada em casos de recolha de um número reduzido de óvulos ou dificuldade em serem fecundados detectada em ciclos anteriores de fertilização in vitro. Ao procurar por ajuda em casos de dificuldades de engravidar por qualquer motivo faz-se necessário pesquisar a qualidade dos serviços oferecidos pelas clínicas.
O médico ginecologista, com formação na especialidade de reprodução humana, deve, de forma individualizada, oferecer os diferentes métodos de auxílio a fertilidade com clara explicação das vantagens e desvantagens de cada um deles. O casal deve participar ativamente de todas as fases do processo, desde as consultas até o acompanhamento dos exames, como, por exemplo, durante a ultra-sonografia, e, nos casos de FIV, participar da seleção dos embriões para a posterior transferência para o útero. Os resultados da reprodução assistida tem sido fantásticos, realizados em clínicas apropriadas e com médicos competentes, a grande maioria dos casais conseguem realizar o sonho de ter seu filho.
* Dr. Felipe Simões Canavez é Ginecologista / Obstetra
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