O ideal é identificar as crianças com perda auditiva antes dos 3 meses de idade e iniciar o tratamento até os 6 meses. O diagnóstico de deficiência auditiva nesta faixa etária não é tarefa fácil. Exige numerosas consultas e avaliações com o Médico Otorrinolaringologista, Pediatra, às vezes Neurologista e Fonoaudiólogo para a conclusão diagnóstica.
Recém nascidos com os ditos Fatores de Risco para Deficiência Auditiva devem ter uma avaliação ainda mais rigorosa. Somente para exemplificar, alguns destes fatores são: recém-nascidos com baixo peso (menor que 1500g); prematuros (inferior a 34 semanas); pequeno para a idade gestacional, ou que sofreram com baixa oxigenação antes/durante ou após parto; recém-nascidos com infecções congênitas (rubéola e toxoplasmose por exemplo); uso de medicações tóxicas para o ouvido (como alguns antibióticos); meningite; icterícia; história familiar de deficiência auditiva (pais ou familiares); malformações em cabeça ou pescoço; recém-nascidos que necessitaram de UTI neonatal por mais de 48 horas.
Atualmente existe um programa de Triagem Auditiva Neonatal, com a finalidade de que estas crianças com deficiência auditiva sejam diagnosticadas e tratadas no tempo correto. Dessa maneira, propõe-se avaliar o maior número possível de recém nascidos, ainda na maternidade ou no primeiro retorno com o pediatra. A consulta com um Otorrinolaringologista é essencial; este irá colher a história clínica (desde o período gestacional, que é extremamente importante na formação do Aparelho Auditivo) e a história familiar da criança, examiná-la e, conforme o caso e a necessidade, solicitar exames complementeres, como a OEA (Otoemissões acústicas ou “Teste da Orelhinha”), BERA, imitanciometria e audiometria (este em crianças maiores).
A família tem papel importantíssimo, já que passa a maior parte do tempo com a criança. Sendo assim, deve observar o comportamento da criança, que pode dar sinais de algum grau de perda auditiva, como por exemplo: até os 3 anos, a principal queixa dos pais é a de que a criança não fala, ou fala apenas palavras distorcidas. Dos 3 aos 6 anos, o principal sinal é que a criança fala “enrolado”, ou seja, tem a fala pouco clara; a criança só atende aos chamados em voz elevada, aumenta excessivamente o volume da televisão e, na escola, tem maior dificuldade que os outros em cumprir ordens verbais. Acima dos 6 anos, o principal sinal de alerta é a dificuldade de aprendizado. É a criança dita “aérea” ou que “está no mundo da lua”; enquanto apresenta dificuldade em atividades que exijam boa audição, como no ditado, tem bom desempenho naquelas em que é exigido raciocínio, como por exemplo, a matemática. Nesta faixa etária, em um grande número de casos está presente uma patologia de fácil resolução, que é a Otite Média Secretora (nesta, há acúmulo de secreção na orelha média, dificultando a passagem do som).
A identificação e tratamento tardios da deficiência auditiva resultam em prejuízo no desenvolvimento da linguagem oral e da comunicação, uma vez que a aquisição da linguagem, paralelamente à maturação neurológica, ocorre nos primeiros meses de vida. Em contrapartida, o diagnóstico e tratamento precoces, na maioria das vezes, proporcionam que o indivíduo tenha uma vida social normal.
A Deficiência Auditiva ainda é um assunto envolvido por muitos mitos, devido ao grande preconceito que há em nossa sociedade. Sendo assim, o melhor remédio é a informação, para que as pessoas saibam como identificar o problema e o que fazer em caso de necessidade.
* Dra. Priscila Ramalho O. Barreiros é Otorrinolaringologista
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