quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Dispepsia - A famosa indigestão!

A palavra dispepsia ( Dys = má; Pepsien = digestão ) deve ser utilizada para designar sintomas que parecem ter origem no estômago e duodeno, caracterizados por dor ou desconforto no epigástrio ( região correspondente à parte superior do abdome ). O termo desconforto significa uma sensação não dolorosa referida como peso, plenitude ( empachamento ), saciedade precoce, eructações ( eliminação de ar pela boca ), náuseas e vômitos. Esses sintomas podem ser ocasionados por doenças orgânicas como úlcera péptica, câncer do estômago, parasitoses intestinais, medicamentos, etc.
Em mais de 50% dos casos esses sintomas não podem ser atribuídos a alterações físicas estruturais ou de exames laboratoriais, caracterizando uma dispepsia não orgânica ou funcional. É mais freqüente em adultos jovens e nas mulheres. Os pacientes com dispepsia funcional podem apresentar episódios de pirose ( queimação retroesternal ). Quando este sintoma é frequente é possível fazer 2 diagnósticos: dispepsia funcional e doença do refluxo gastro esofágico. Muitos apresentam ainda distúrbios psicológicos associados, desde depressão e ansiedade até quadros psiquiátricos mais graves.
É importante dizer que o diagnóstico de dispepsia funcional só pode ser firmado se os sintomas persistirem durante 3 ou mais meses. Aqueles que apresentam sintomas após alimentação de digestão difícil como feijoada, churrasco, rabada etc, não podem ser considerados portadores deste mal. A dispepsia funcional não ocasiona risco para a vida do paciente, nem evolui para doença grave, mas é um importante problema médico social, com conseqüências econômicas desastrosas relacionadas ao número de consultas médicas, do custo da medicação, ao absenteísmo no trabalho e às repercussões na vida social e familiar.
Muitos estudos demonstram um número maior de diagnósticos de gastrite por H pylori ( inflamação causada por esta bactéria ) nos pacientes com dispepsia funcional do que na população assintomática. A inflamação crônica do estômago seria uma causa capaz de provocar aumento de sensibilidade nos órgãos do aparelho digestivo facilitando o aparecimento de sintomas dispépticos. Se um paciente com gastrite por H pylori apresentar sintomas de dispepsia que desaparecem após o tratamento de erradicação dessa bactéria a dispepsia é do tipo orgânica e não funcional. Como a gastrite por H pylori e a dispepsia funcional são doenças muito freqüentes elas podem coexistir em um mesmo paciente.
O tratamento deste distúrbio deverá ser feito de acordo com os sintomas apresentados, podendo os medicamentos serem associados com a psicoterapia ou com a erradicação do H pylori, porém, o mais importante para a melhora definitiva dos sintomas está no uso de alimentos saudáveis, sem corantes ou conservantes, em uma alimentação com regularidade ( pelo menos de 4 em 4 horas ) e com maior cuidado na mastigação, evitar bebidas gasosas e/ou artificiais, utilizar as bebidas alcoólicas e alimentos condimentados com bastante critério, não fumar e, finalmente, organizar seus horários para que se possa ter tempo reservado para a alimentação e para a evacuação. Não existem fórmulas mágicas e nem medicamentos miraculosos. O bem estar digestivo como também na maioria das doenças depende do compromisso do paciente de adotar hábitos saudáveis e não se automedicar.

* Dra. Anelise Luderer - Gastroenterologista

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