segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

Entrevista com os Urologistas, Dr. Marco Antônio e Dr. Clayton - Câncer de Próstata

“Os homens não estão acostumados com esse tipo de exame, porque nós fomos criados em uma sociedade machista”.




Dr. Marco Antônio e Dr. Clayton

Prevenção é a primeira palavra que os urologistas Marco Antônio e Clayton Lagoa respondem quando questionados sobre a importância da realização do exame de próstata. Mesmo vivendo em tempos modernos, eles contam que ainda encontram resistência de muitos homens quando o assunto é o temido toque retal. Eles destacam ainda que o diagnóstico precoce da doença aumenta as chances de cura.

Perguntas:

O que é câncer de próstata?

M.A./C.L. - O câncer de próstata é uma patologia que acomete com maior incidência os homens a partir dos 40 anos de idade. Ele atinge a próstata, um órgão que faz parte do sistema reprodutor masculino. É uma doença que está em evidência, não porque passou a existir mais, e sim, porque os homens estão mais preocupados com ela e, consequentemente, procurando os urologistas para fazer o exame preventivo da próstata. Temos que chamar a atenção, “o câncer de próstata é uma doença que começa na próstata, mas que pode atingir o corpo todo do paciente”.

É uma doença que quando atinge o paciente em idade mais avançada, é menos agressiva do que quando atinge pacientes mais jovens. Hoje temos que ter uma atenção muito grande, porque se a doença não for diagnosticada e tratada precocemente, infelizmente perderemos a chance de cura.



O que é PSA?

É o Antígeno Prostático Específico (PSA). É uma proteína produzida pela célula prostática e algum percentual pela glândula suprarrenal, porém muito pequeno (em torno de 1%). Como não é marcador exclusivo do câncer de próstata (e sim da próstata), a margem de erro do exame chega a 80% quando utilizado isoladamente. Por isso, a dosagem de PSA deve sempre ser feita juntamente com o exame de toque retal. O aumento do PSA pode ser devido ao crescimento da glândula (hiperplasia benigna da próstata); por inflamação ou infecção (prostatite); por alguma atividade que o paciente faça, como relação sexual, ou devido a um câncer na próstata. A massagem prostática, ultrassonografia prostática, ultrassonografia transretal e até andar de bicicleta também aumentam o PSA.


Qual é a média normal do PSA?


A média normal do PSA é 2,5ng/ml, mas tem alguns dados que usamos de acordo com a faixa etária. Por isso a importância de ir a um urologista, porque são detalhes que somente um especialista percebe. Até 49 anos, PSA de até 2,5ng/ml; de 50 a 59 anos, 3,5ng/ml; de 60 a 69 anos, 4,5ng/ml; acima de 70 anos, até 6,5ng/ml. Mas é preciso ressaltar que isso não vem no laudo do exame, geralmente vem o valor normal que é 2,5ng/ml. Outro especialista não saberá interpretar se o exame está alterado. Por exemplo, se um paciente de 71 anos estiver com o PSA de 4,0ng/ml, que é normal para sua faixa etária, ele ficará preocupado, porque ele vê que a faixa normal de PSA é 2,5ng/ml e o seu está 4,0ng/ml. Quando, na verdade, sabemos que, para uma faixa etária de 71 anos, esse valor é normal.


Como se desenvolve o câncer de próstata?


O câncer de próstata é dependente do hormônio testosterona que todo homem tem presente no organismo. Ele é como se fosse a fonte alimentar do tumor. O sedentarismo e as dietas ricas em gorduras, sobretudo de origem animal, estimulam a produção de testosterona, o combustível do câncer.


Quais são os sintomas do câncer de próstata?


O câncer de próstata é dividido em estágios. No estágio inicial não há sintomas. Na fase intermediária os sintomas se confundem com o crescimento normal da próstata (hiperplasia benigna da próstata) que são jato urinário fraco, aumento da frequência urinária noturna, dificuldade para urinar, sensação de peso na parte inferior do abdome, às vezes, ardência ao urinar. E, na fase avançada, os sintomas já chegam à dor óssea, que é na fase metastática. É bom ressaltar que na fase inicial do câncer, ou seja, na assintomática, 90% dos tumores podem ser curados. Já na fase intermediária não temos como dizer esse percentual e, na fase avançada, não tem mais cura.


Quais exames são realizados para diagnosticar a doença?


Hoje, solicitamos que o paciente faça preventivo. A Sociedade Brasileira de Urologia (SBU) recomenda que todo paciente acima de 40 anos faça pelo menos o exame de PSA. O paciente de 40 anos que tenha histórico familiar, ou seja, qualquer parente de primeiro grau com câncer de próstata que também seja submetido ao toque retal. A partir dos 45 anos, todos devem fazer os exames de PSA e toque retal.


Qual a periodicidade desses exames?


Anual. Os homens não estão acostumados com esse tipo de exame, porque nós fomos criados em uma sociedade machista. Mas o que sempre ressaltamos é que as mulheres vão ao ginecologista todo ano, seja com profissional homem ou mulher e nós achamos isso normal. Agora para o homem realizar o exame preventivo já se cria um tabu. Isso é ruim! Nós temos que desmistificar isso. É um assunto que está na mídia. Porque cada vez mais conhecemos alguém perto de nós que tem câncer de próstata, o que antigamente não acontecia. Portanto, o exame preventivo da próstata deve ser realizado, na sua maioria, uma vez por ano (há algumas exceções) e sempre por um médico urologista.


Quais são as opções de tratamentos e como são realizados?


Os tratamentos são realizados de acordo com o estágio da doença. Se ela estiver no estágio inicial, nós temos dois principais tratamentos: cirurgia ou radioterapia. Esses são os mais indicados nos dias de hoje. A cirurgia é a prostatectomia radical, que é a remoção total da próstata e das vesículas seminais. Pode ser feita aberta ou por videolaparoscopia. A radioterapia é a emissão de feixes de radiação para a próstata matando as células cancerosas. Também temos a braquiterapia, implantes de microcápsulas na próstata, mas ela é indicada para os tumores iniciais e de baixo risco. Nós temos ainda, a vigilância ativa, que consiste em acompanhar o paciente trimestralmente, preservando-o o maior tempo possível da radioterapia ou cirurgia. Mas praticamente ninguém aceita esse tipo de acompanhamento.Nos estágios mais avançados, onde não há possibilidade de cura, temos o recurso da quimioterapia e hormonioterapia para controle da doença. Acreditamos que a cirurgia é o melhor, não em termos de resultado,mas dá menos efeitos colaterais,ou seja, o paciente tem uma qualidade de vida melhor.


Existem muitos efeitos colaterais?


Na prostatectomia radical, eles vêm diminuindo muito nos últimos anos. A técnica cirúrgica avançou e hoje a incidência de incontinência urinária é muito pequena, entre 5 e 10%. Nós temos um problema que é a impotência sexual (disfunção erétil), porque o homem já chega com a ideia de que se realizar uma cirurgia de próstata ficará impotente. Não! Eles precisam entender que a impotência sexual é principalmente devido a cirurgia radical de próstata. A taxa de impotência também diminui nos últimos anos, entre 30 e 40%. Mas isso também depende da idade do paciente, porque quanto mais jovem, menor a possibilidade de impotência, além do estágio em que o tumor se encontra. A radioterapia também tem seus efeitos colaterais, assim como os outros tratamentos. Portanto, a decisão do melhor tratamento para o paciente deverá ser definida em conjunto com o seu médico.


Após o tratamento, o homem está 100% curado?


Bom, como todo câncer, nós só vamos falar que está curado, após um acompanhamento de pelo menos cinco anos e após o tratamento proposto como curativo. Se depois desse acompanhamento os exames mostrarem que ele está livre da doença, nós consideraremos o paciente curado.


Qual a importância do exame para se evitar o câncer de próstata?


A importância está relacionada à cura. Nós sabemos que quanto mais precocemente diagnosticamos o câncer de próstata, maior será a chance de cura. Só o fato de ir ao médico (mesmo sem estar sentindo nada) fazer o preventivo, e porventura, tiver a doença, terá 90% de chance de cura. O câncer de próstata cresce lentamente. O homem não vai ao médico aos 40 anos, nem aos 45 anos e só vai aos 57 anos, por exemplo; e quando faz o exame acaba descobrindo que tem um câncer de próstata incurável. Foi esse o caso de um paciente nosso. Ele compareceu ao consultório por causa de ardência urinária e, através do toque retal, constatamos que a próstata dele estava totalmente endurecida. Ao final do diagnóstico, conclui-se que era um câncer de próstata em estágio avançado, ou seja, sem chances de cura. Não queremos que o paciente chegue até nós nesse estágio. Nós queremos curá-lo da doença. Por isso a necessidade da periodicidade do exame preventivo da próstata.


Atualmente, qual é o índice de pessoas acometidas pela doença?


O câncer de próstata é uma doença silenciosa, que acomete 52 homens a cada 100 mil, no Brasil. É uma incidência alta, e relacionamos isso a fatores como estresse, alimentação, raça. No entanto, pesquisas constataram que nas regiões industrializadas a incidência de câncer é maior. De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), são estimados 48 mil novos casos de câncer para esse ano no Brasil. A região Sul é a que apresenta maior incidência de câncer, seguida pela região Sudeste.


Até que ponto a hereditariedade influencia no aparecimento da doença?


Quando o homem tem um parente de primeiro grau com histórico de câncer de próstata, ele tem chance três vezes maior em ter a doença. Dois parentes, em torno de seis vezes. Três em torno de 11 ou 12 vezes mais chances de desenvolver um câncer de próstata. A questão hereditária requer uma atenção redobrada.


Sabe-se que a prevenção não faz parte da cultura brasileira. A que vocês atribuem isso?


Os homens tem muito preconceito em ir consultar com um urologista. Então é importante conscientizá-los de que, a partir dos 40 anos, eles tem que procurar um especialista para fazer o exame preventivo da próstata. A maioria dos pacientes chega para nós dizendo que vai fazer o exame de próstata, mas que não sente nada. É exatamente esse paciente que nós queremos atingir; aqueles que não estão sentindo nada e, caso tenham a doença, tem mais chances de serem curados. É importante destacar que a consulta com o urologista não é um bicho de sete cabeças. O paciente comparecerá ao consultório, realizará os exames necessários para fazer a prevenção da doença e será orientado. No entanto, geralmente, o homem chega ao consultório e pergunta se a ultrassonografia substitui o toque. Não substitui, porque a ultrassonografia não tem a sensibilidade que o toque retal tem para diagnosticar a doença. Além disso, o tempo de duração do exame de ultrassom é de dois a três minutos. Enquanto um toque retal em média dura 15 segundos.

É importante, também, fazer o acompanhamento. Porque o exame do paciente pode estar normal esse ano, mas no ano que vem pode estar alterado. Acredito que as nossas grandes aliadas, hoje, são as mulheres. Muitos homens vão ao consultório por insistência da esposa.


Qual é a média de atendimento para a realização do exame preventivo?

De 55 a 65% das consultas são para fazer o exame preventivo. Mas apesar da estatística e da porcentagem ser alta, ainda tem muito homem que não procura urologista para fazer o exame.


Quais fatores contribuem para a prevenção do câncer de próstata?

Praticar atividades físicas regulares e uma dieta saudável. Evitar alimentos ricos em gorduras, principalmente as de origem animal. Hoje existem substâncias que podem diminuir a incidência da doença. Exemplo disso é o licopeno, que está presente nos alimentos de cor vermelha como a melancia e, principalmente, em molho de tomates frescos. Ele é um antioxidante que ajuda a conter a ação dos radicais livres.


O exame e a cirurgia podem ser realizados no HINJA?


Sim. Realizamos o exame preventivo em nossas consultas urológicas. Durante a consulta conversamos com o paciente, perguntamos alguns dados não somente direcionados a próstata, mas uma anamnese geral (entrevista), também realizamos o exame físico e os exames complementares que forem necessários ao caso. Temos todos os recursos necessários para fazer a cirurgia aqui no hospital: equipe médica especializada, equipe de enfermagem e toda infraestrutura necessária, com centro cirúrgico, CTI e enfermarias totalmente modernizadas.



terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Entrevista com Dr. Roberto Tambasco (Otorrinolaringologista) - Labirintite

A Disfunção é uma doença que pode ter inúmeras causas e geralmente apresenta como principal sintoma a vertigem.
A Disfunção do Labirinto popularmente conhecida como labirintite, acomete milhares de pessoas. Muitas podem ser as causas dessa disfunção, entre elas as doenças pré-existentes como diabetes, hipertensão, reumatismo, além de hábitos como o excesso de cafeína, álcool e tabagismo.
Em entrevista, o otorrinolaringologista Roberto Tambasco explica o que é a doença e como evitá-la. Ele destaca ainda o importante papel que a alimentação equilibrada tem na prevenção da Disfunção do Labirinto.

Perguntas:


Muito se ouve falar em labirintite. Que doença é essa?

Dr. Roberto Tambasco – O termo certo é “Disfunção do Labirinto” e não labirintite, que seria uma inflamação no labirinto. Como o nome já diz, a disfunção é uma doença que pode ter inúmeras causas e geralmente apresenta como principal sintoma a vertigem.

Dr. Roberto Tambasco

Qual é a função do labirinto?
O labirinto é uma estrutura localizada dentro do osso temporal, de forma tridimensional, e é responsável por manter o corpo em equilíbrio. Dentro dele existe um líquido que se movimenta de acordo com os movimentos da cabeça, e o movimento deste líquido (chamado endolinfa) é que permite que o corpo tenha percepção de espaço.


O que provoca a labirintite?

A labirintite (Disfunção Labiríntica) pode ocorrer devido a várias causas, dentre elas: alterações metabólicas (hipercolesterolemia, hipertrigliceridenia, hipercolesterolemia, etc), inflamação no nervo vestibular, uso abusivo de cafeína, tumores dentro do sistema nervoso central, fístula perilinfática, etc.


Qual a diferença entre vertigem e tontura?

Vertigem é o nome dado a sensação do movimento rotário do corpo. E tontura é uma sensação de desorientação espacial do tipo rotatório (vertigem), ou não rotatório (instabilidade, flutuação, oscilação).


Esclareça os sintomas que diferenciam a crise de labirintite da tontura comum, que a pessoa sente porque se alimentou mal, por exemplo.

Praticamente os sintomas são os mesmos, o que diferencia uma causa da outra é a história clínica do paciente.


Quais são os sintomas da labirintite?

O principal sintoma é a vertigem, porém muitas vezes as vertigens vêm acompanhadas de sintomas auditivos (zumbido, perda auditiva, etc) e neurovegetativas (náuseas, vômitos, taquicardia, sudorese e palpitação).


O que acontece dentro da cabeça da pessoa que tem a doença?

O que acontece basicamente é que em condições normais os dois labirintos funcionam em equilíbrio, com estruturas dentro do sistema nervoso central. Quando ocorre alguma disfunção no labirinto, geralmente ocorre somente em um dos dois uma perda desse equilíbrio. Entre as estruturas e o corpo apresenta a ilusão ou alucinação de posição no espaço (vertigem).


Como diagnosticar a doença?

Como a doença pode ter várias causas, o diagnóstico é feito através da história clínica, audiometria, testes vestibulares(vectoeletronistagmografia), exames laboratoriais, etc.


Como é feito e quanto tempo dura o tratamento da labirintite?

O tratamento e a duração do mesmo dependem da causa da doença. Podendo ser: medicamentoso, cirúrgico, através de reeducação de hábitos diários, etc.


Ao não tratar a doença, quais são os riscos que o paciente corre?

Corre o risco de apresentar os sintomas de forma recorrente.


A alimentação pode contribuir para um bom resultado do tratamento?

Sabe-se que o uso abusivo de cafeína, açúcar refinado e ficar sem se alimentar por longos períodos, apresentam íntima relação com os distúrbios do labirinto.


O álcool pode provocar um processo semelhante ao da labirintite?

A alteração causada pelo álcool se dá por meio do sistema nervoso central (cerebelo) e não do labirinto.


Essa doença pode ser prevenida?
A doença pode ser prevenida através de hábitos saudáveis de vida (alimentação equilibrada, atividades físicas, etc).