quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Entrevista com Dr. Luiz Alexandre Cabral – Esquecimento

“O excesso de informação da vida moderna tem contribuído de forma significativa para que adultos jovens sofram de falha de memória.”



Dr. Luiz Alexandre - Neurologista
Você conhece uma pessoa e logo depois esquece o nome dela? Vai ao supermercado e deixa de comprar algum produto porque não se lembra? Saiba que você não é o único a passar por essas situações. Cerca de seis bilhões de pessoas têm o problema. Mas, afinal, porque isso acontece? Para explicar porque acontecem essas falhas de memória, a bem-estar entrevista o neurologista Luiz Alexandre Cabral, que dá dicas de como lidar com o problema.




Perguntas:


Como funciona, no cérebro, o processo de aprendizagem e de memória?


Dr. Luiz Alexandre – As funções de memória não podem ser analisadas com sendo um processo único. Muitos são os mecanismos envolvidos em diferentes tipos de memória, como a de uso imediato chamada operacional, a memória olfativa (para odores), a memória para fatos ou mesmo para o reconhecimento visual; cada qual tem seus circuitos cerebrais envolvidos. Ainda está por ser desvendado pela ciência como a informação fica armazenada em definitivo. Mas alguns mecanismos, chamados mnemicos, ajudam a reter informações, assim como a repetição, a soma de estímulos como audiovisuais ou mesmo a associação de ideias.


Quais são os principais sintomas da perda de memória?


L.A. - As dificuldades na evocação de palavras, nome ou mesmo na realização de tarefas antes conhecidas, pode ser sintoma de falta de memória; mas apenas se os nomes, palavras e tarefas são corriqueiros. Quando deixamos de realizar algo, utilizar termos ou nomear pessoas e lugares por muito tempo, é aceitável alguma falha na realização destas tarefas.


Como é realizado o diagnóstico?


L.A. - Os transtornos que levam ao déficit de memória são em sua maioria de diagnóstico clínico, como depressão, estresse, déficit de atenção hiperatividade (TDAH), entre outros. Mesmos as chamadas demências têm como exame inicial testes específicos, como o exame de Folstein, nos quais são avaliados não somente a memória, mas como também o raciocínio lógico, entre outras funções cerebrais.


Quais são as principais formas de tratamento?


L.A.- Cada transtorno tem seu tratamento específico, mas em geral o exercício diário da memória e do raciocínio, aliados ao sócio criativo e exercício físico regular ajudarão a prevenir estes males.


Quais fatores contribuem para a perda de memória?


L.A. - Algumas doenças clínicas como diabetes mal controladas, hipotireoidismo (transtorno da tireoide) não tratado são exemplos de doenças que podem associar-se a dificuldades de memória. Porém não são apenas as doenças clínicas que causam o problema; o estresse e o excesso de informação da vida moderna tem contribuído de forma significativa para que adultos jovens sofram de falha de memória.


O déficit de memória é patológico?


L.A. - Todo mal que causa desconforto ou perda produtiva ao indivíduo, deve ser abordado como doença. Além de que, os transtornos de memória podem ser um alerta de patologias variadas ainda não diagnosticadas.


Quais prejuízos essa perda de memória pode causar para quem a sofre?


L.A. - O principal diz respeito à capacidade laborativa e de aprendizado. Porém, a capacidade de lidar com as simples tarefas do dia a dia pode ser comprometida, assim como lembrar de pagar suas contas em dia ou perder horários marcados em consultórios e reuniões.


A perda de memória pode estar associada a outras doenças, por exemplo, o Mal de Alzheimer?


L.A. - Um dos primeiros sinais das chamadas demências, grupo de doenças na qual está incluída o mal de Alzheimer, é a dificuldade na retenção de memória ou memória para fatos recentes.


Como se realiza o tratamento de memória e que relação existe entre a memória e a atenção?


L.A. - Para a devida retenção de memória é necessária a atenção ao fato. Desta forma, qualquer distração ou uma cabeça cheia, vão obrigatoriamente comprometer a retenção da memória. O treino da memória passa pela repetição e associação de ideias, entre outros métodos aplicados. Existem até mesmo cursos que ensinam como aumentar sua capacidade de retenção de memória.


Uma pessoa que não consegue lembrar-se à tarde do conteúdo de um artigo que leu pela manhã tem problema de memória ou não prestou atenção ao que leu?


L.A. - As duas situações podem ser verdadeiras. O indivíduo pode tanto apresentar transtorno na memória de retenção, assim como pode ter realizado leitura mecânica, na qual ele lê, mas sem a devida concentração na leitura.